Depois de conviverem mais de um século com o desenvolvimento dos automóveis, algumas cidades pelo mundo começam a perceber, mesmo que lentamente, que as ruas devem priorizar as pessoas e os carros não fazem muito sentido no contexto urbano. Em que pesem as sensações de independência e conforto, também é notório se considerar fatores negativos como a poluição atmosférica, as mortes no trânsito e os frequentes congestionamentos.
Só para se ter ideia, um estudo britânico constatou que os motoristas têm se movido, em média, mais lentamente do que os ciclistas em algumas horas do dia e, como se não bastasse, ainda gastam 106 dias de suas vidas a procura de lugares para estacionar.
A FastCo.Exist listou sete cidades pelo mundo que restringem, cada vez mais, a circulação de carros, por meio de medidas que buscam democratizar mais o espaço urbano. São elas:
MADRID
A capital da Espanha já proibiu o tráfego em determinadas ruas da cidade e, neste mês, a zona livre de carros será aumentada. A área permitirá que os moradores dos bairros do entorno possam usar seus veículos, mas os motoristas de outras áreas não serão autorizados, sob pena de pagar uma multa de US$ 100. A medida faz parte de um plano mais amplo do poder público, que busca tornar o centro livre de carros nos próximos cinco anos. Ao todo, 24 das ruas mais movimentadas serão redesenhadas para privilegiar os pedestres. Para completar, os carros mais poluentes terão que pagar mais caro para estacionar.
PARIS
No ano passado, quando os níveis de poluição atmosférica em Paris chegaram ao topo, a cidade chegou a promover rodízio entre os veículos. Como os poluentes chegaram a cair 30% em algumas áreas, depois da iniciativa, a meta agora é desencorajar o uso dos carros com mais freuquência. No centro da capital francesa, as pessoas que não vivem nos bairros locais não serão autorizadas a dirigir nos finais de semana – regra que poderá em breve ser estendida para todos os dias.
Até 2020, o poder público planeja dobrar o número de ciclovias na cidade, proibir carros a diesel e limitar certas ruas aos veículos convencionais, priorizando os automóveis elétricos e outros modelos com baixo nível de emissões. O número de motoristas em Paris já começou a cair. Em 2001, 40% dos parisienses não possuíam carro; agora esse índice é de 60%.
CHENGDU
Uma nova cidade satélite planejada no sudoeste da China pode servir de modelo para um município moderno: em vez de projetadas para os carros, as ruas são desenvolvidas de modo que qualquer localização possa ser alcançada em 15 minutos a pé.
Os planos, desenhados pelos arquitetos de Chicago Adrian Smith e Gordon Gill, não buscam a proibição total dos carros, mas apenas metade das vias permitirão os veículos motorizados. A cidade também promete priorizar o transporte público. Com uma população prevista de 80.000 pessoas, a maioria desses habitantes vai ser capaz de ir para o trabalho a pé. O projeto foi originalmente planejado para ser concluído em 2020, a depender das questões de zoneamento.
HAMBURGO
Apesar de Hamburgo não planejar a proibição de carros no centro, a cidade tem pensado em medidas para desencorajar o uso dos automóveis. Um exemplo é a construção de uma “rede verde” que irá conectar parques, tornando possível ir de bicicleta ou a pé para qualquer lugar. A rede irá cobrir 40% do espaço do município.
HELSINKI
Helsinki, na Finlândia, espera uma enxurrada de novos residentes ao longo das próximas décadas, mas menos carros serão permitidos nas ruas da cidade. Seu mais novo plano projeta a transformação de áreas dependentes de automóveis em comunidades densas, tranquilas, ligadas ao Centro por meio de um rápido e eficiente transporte público. A cidade também está construindo novos serviços de mobilidade-on-demand para facilitar a vida dos cidadãos. Um novo aplicativo em testes agora permite que as pessoas acessem, instantaneamente, uma bicicleta, carro ou táxi compartilhado, ou encontrar o ônibus ou trem mais próximos. Em uma década, a cidade espera tornar os carros completamente desnecessários.
MILÃO
Milão testa atualmente uma nova maneira de manter os carros fora do centro da cidade: se os motoristas deixarem seus veículos em casa, eles ganham vale-transporte gratuito. Um sistema conectado à internet no painel dos carros mantém o controle de localização, de modo que ninguém possa tentar burlá-lo. Para cada veículo deixado em casa, a prefeitura envia um voucher com o mesmo valor de um bilhete de ônibus ou trem.
COPENHAGUE
Há 40 anos, o tráfego em Copenhague era tão ruim como em qualquer outra grande cidade. Agora, mais de metade da população utiliza a bicicleta como meio de transporte. As zonas para ciclistas passaram a ser introduzidas na década de 1960 no centro da cidade. A capital da Dinamarca dispõe hoje de 200 km de ciclovias e até autoestradas para bicicletas em seus arredores. Vender carros nesta cidade europeia não parece um bom negócio.
Será que essa tendência de restrição aos carros e democratização do espaço público vai chegar aqui no Brasil também? Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura já estuda a possibilidade de fechar a Avenida Paulista para carros aos domingos.