Desabilitada para ensaios e projeções amorosas. Não tenho mais paciência para o que antecede aos relacionamentos. Não tenho a mínima disponibilidade para as produções de caras e bocas, a descobertas de afinidades, o esforço para agradar que são os artifícios para que se aclame os interesses do parceiro.
Esse negócio de preparação, expectativas, confinamento afetivo, até que as manifestações da mesa ao lado surja, prometendo o início de um pra sempre colorido, bonito e quentinho, pela sequência me dá canseira, preguiça e desânimo. E não é que eu desacredite em algo tão bom, mas as vezes pular etapas, deixar a descontração tomar conta é tão excitante e saudável que as expectativas ficam apenas no caderninho esperando uma oportunidade para acontecer. No mais, não me exijam esses pormenores porque certamente meu desempenho será deplorável.
Hospedo no meu coração, novas prioridades. Meu show é outro e sem inventar cenário e reprogramar falas. Vivo sem proteção e sofisticada vigilância nos olhos em busca do parceiro ideal. Permaneço livre do extenso paladar do amor.
O fato é que destravei as coisas ensaiadas para o amor. Divago, estorvo a minha paciência e insinuo a minha aventura diária pela liberdade. Vivo um novo tempo. O antigo passou e eu estou mais sóbria para não desconsiderar as possibilidades do encontro casual, que era o objeto de perseguição dos meus antigos sonhos juvenis. Digo isso porque ficar ereta, retocar o batom, permanecer com o bonitinho sorriso congelado é a mesma coisa que uma algema apertada e impiedosa que suborna a minha força motriz a troco de insignificantes realidades.
Começar, descobrir, adivinhar, projetar, promove variações afetivas sem a garantia de a receita dar certo, desgasta e contrai meus delitos de ser uma pessoa normal. Essa inauguração de recursos para atropelar o amor, desafia a minha civilidade.
Agora, sigo assim: breve e leve. Não acomodo a rigidez dos manuais de conquista. Reinventei-me e bem melhor, pelo menos me sinto mais confortável e não me apego mais contrapondo a realidade para conciliar sonhos. Continuo romântica e liberta das insolentes manias de provar feminilidade para atrair conquistas amorosas. Fico assim, com um filminho na TV, o telefone mudo ao lado da cabeceira, o cabelo em desalinho e o coração em completa liberdade. O que vier, terá que ser suntuoso e deslumbrante para me convencer a abrir a porta, com naturalidade. Ando com preguiça para o vestibular da conquista.
Sem nenhuma habilidade, espero que o amor aconteça em qualquer sábado comum, num abraço, aperto de mão ou três beijinhos sem nenhuma intencionalidade. Essa é única tortura que permito.
Autor: Ita Portugal
Tem como curtir 975359939615 vezes?
As vezes eu acho que você me conhece Ita, em outras eu tenho Plena Certeza Disso!!
As vezes acho que você mantém contato com minha antiga Terapeuta!!
🙂
Também desconfio que vc “andou” me analisando e escreveu exatamente como me encontro agora. Apenas com uma variante, eu não acredito mais no amor, infelizmente. Quem eu mais amei, além de mim mesma, só me rejeitou e machucou.
Texto excelente. Não há riqueza maior do que a nossa liberdade e de termos o livre arbítrio de escolhermos o melhor para nós, seres humanos simples e normais, considerados anormais. rs
Abraço carinhoso e de admiração.