Aplicativos que mostram quem te exclui do Facebook ou do Twitter são bastante populares. Por que “saber demais” pode ser um problema?
De tempos em tempos, aplicativos que identificam quem te excluiu de uma rede social voltam a fazer sucesso. O último deles, foi tão falado esta semana que agora está com problemas para funcionar por não dar conta da quantidade de acessos. Há também programas similares que mostram quem parou de te seguir no Twitter.
Uma vez que você baixa um desses programas – seja no smartphone, seja no seu computador – a tarefa de checar quem rompeu laços virtuais contigo pode-se tornar uma rotina. Uma rotina um tanto doentia, se você parar para pensar. Minha sugestão é direta: não baixe aplicativos assim. Se já baixou, o melhor que você faz para a sua paz virtual é desinstalá-lo logo após terminar de ler este post.
“Nossa, que radical. Eu tenho nas minhas redes sociais as pessoas que gosto. As que eu aceitei apenas por conveniência farão um favor se me excluírem…”
E se não for uma pessoa dispensável? Se for uma pessoa que você realmente gosta? Um familiar querido? Um colega de trabalho? O chefe!? A simples descoberta de que alguém te excluiu pode desencadear uma série de dúvidas e percepções desnecessárias. Nem sempre a sua relação com as redes sociais é a mesma que a de seus contatos. Pode ser um problema, especialmente, se você leva sua vida nesses sites muito a sério. Há gente que tem um perfil no Facebook ou no Twitter, mas não está nem aí para o que está acontecendo com a vida alheia. Usa as redes sociais apenas para ficar por dentro das últimas notícias, jogar Candy Crush ou FarmVille. Deletar alguém, portanto, é uma forma de deixar esse ambiente “menos poluído” e não deve ser tratado como uma ofensa.
Uma menção honrosa ao Whatsapp. Da mesma forma como você achou por bem adicionar aquela pessoa a um grupo sem perguntar se ela queria estar nele, ela pode sair do grupo sem aviso prévio. Não é para ficar ofendido. Tem gente com fobia de notificações.
Rede social = bebida alcoólica
O mundo virtual ainda é um ambiente novo e anárquico para as relações humanas. As noções de bom senso variam de acordo com “n” fatores. Quem não tem um amigo que sempre pareceu sensato na “vida real” e que se transforma num radical xiita no Facebook? Quem não tem um tio que nas festas de família cativa a todos com suas histórias e que nas redes sociais vira um militante cego de um partido político afundado em corrupção? Quem nunca escreveu um post irritado sobre algum assunto e, minutos depois, apagou, com vergonha de se expor tanto para pessoas que nem sempre são íntimas?
É a tradicional analogia da rede social como bebida alcoólica. Tenho amigos que não bebem e que, no entanto, munidos de acesso a uma rede social, portam-se como o bêbado que xinga o garçom, quebra copo no chão e depois diz arrependido o “te considero pra caramba”. É chato, mas às vezes acontece. Você não precisa terminar a amizade, mas pode evitar acompanhá-lo em “festas open bar”. Excluir, nesse caso, é garantir que a relação no mundo real irá permanecer na mais perfeita paz.
Mas, ok, você não resistiu e decidiu usar a ferramenta por um tempo para descobrir quem te deletou. O que fazer depois da descoberta? Algumas perguntas que devem surgir: por que será que a pessoa fez isso? Vale a pena tocar no assunto pessoalmente? Não vai soar como algo invasivo? Como devo abordá-la? Será que foi alguma coisa que eu postei? O que, exatamente? Por que ela continua amiga virtual daquele fulano que ela nem gostava tanto?
Se você não instalar o aplicativo, vai evitar tudo isso. Olha que maravilha.
Desde que o mundo é mundo, pessoas vêm e vão nas nossas vidas. O afastamento, muitas vezes, é tão natural e imperceptível como foi o início da amizade. Faz parte do processo humano e da formação dos nossos círculos sociais. Robotizar isso com um aplicativo não me parece algo saudável.
Autor: Bruno Ferrari
Eu gostaria sim de saber…