(R. C. Migliorini)
Uma das minhas paixões são os cavalos. Ela é antiga, mas durante muito tempo eu a deixei de lado. Contudo, morando em uma cidade pequena, eu resolvi aproveitar o que tinha de bom por aqui e fiz um mês e pouco de equoterapia, o que despertou esse meu entusiasmo adormecido.
Lembro-me que para começo de conversa, montar exigia uma boa postura, isto é: eu precisava realmente sentar-me e descarregar o peso do corpo na sela, enquanto as mãos, os braços e os ombros ficavam soltos e leves para melhor controlarem as rédeas.
Mesmo sentado, o peso do corpo não podia cair todo nos pés, mas principalmente na bacia, pois muitos comandos eram dados com leves toques dos calcanhares no flanco do animal e as pernas precisavam ficar liberadas pra isso.
Não havia, portanto, uma rigidez excessiva, e a musculatura que ajuda no equilíbrio era ativada em reação à simples andadura do bicho.
Sendo que a maior parte do meu peso era descarregada nas partes do corpo que ficam abaixo da linha da cintura, eu podia aprumar a coluna para sentar sobre o cavalo com alguma prontidão. Eu não podia largar-me sobre a cela como sobre um sofá, já que ali não havia encosto e o balanço constante podia me desequilibrar e jogar-me no chão.
Aprumando-me, minha cabeça também podia funcionar como uma antena, que no alto da coluna e girando para todos os lados, captava os sinais do meio ambiente com o olhar, a audição e o olfato.
O próprio balanço da marcha do animal me ajudava a relaxar. Mas olhar em volta e para longe, só era possível para mim porque eu não precisava me preocupar com os obstáculos do solo ou com o fato de ele ser acidentado. O cavalo é quem andava e quem percebia esses empecilhos com mais acuidade que eu, e sempre se desviava deles. Assim, bastava que eu confiasse e que me entregasse a ele (algumas vezes, a entrega é um bálsamo para alma e para o corpo) e cuidar para não cair com o jogo da montaria.
No princípio, estar montado em um bicho alto e grande depois de vinte anos me deu algum medo, mas logo ele foi substituído por orgulho, confiança, aumento na autoestima e felicidade. Todas essas emoções se refletiam em uma postura ereta, atenta e relaxada.
Por fim, como um animal quente, peludo e dono de olhos doces e grandes, o cavalo fazia com que eu me sentisse bastante confortável para estabelecer vínculos afetivos com ele. Daí, um diálogo e uma troca não verbais eram estabelecidos.