Parece uma enorme vantagem ter alguém sempre conosco, mas essa associação pode não ser benéfica
Nos parques e avenidas planas e arborizadas das grandes cidades é cada vez mais comum ver gente caminhando, correndo ou andando de bicicleta em duplas. São pais (ou mães) acompanhados dos filhos, amigos e principalmente casais. Em geral, essas pessoas apostam na ideia de que além de ser prazeroso ter companhia, um incentiva e apoia o outro no propósito de desenvolver regularmente uma atividade que necessita de empenho, força de vontade e, não raro, pode ser sabotada pela preguiça, especialmente nos dias frios. Quando o compromisso é com o outro – e não apenas consigo mesmo – talvez seja mais fácil pular da cama numa manhã nublada para cumprir o combinado. Tudo parece muito óbvio. Mas será mesmo?
Na contramão de vários estudos – e do senso comum –, pesquisas recentes sobre o cuidado com a própria saúde sugerem que ter uma companhia que nos incentive pode exercer o efeito oposto e paradoxal, minando o comprometimento pessoal para atingir metas. Alguns psicólogos já começam a considerar que, para algumas pessoas, se associar a alguém para levar objetivos em frente – e não só em relação à atividade física, mas também em outras áreas da vida, como a profissional – as faz delegar a responsabilidade por seus desejos, “terceirizando” o empenho.
Intrigados com essa possibilidade aparentemente pouco provável, dois pesquisadores resolveram investigar. Os psicólogos Gráinne M. Fitzsimons, da Universidade Duke, e Eli J. Finkel, da Universidade Northwestern, concordavam que apoio moral podia ter um lado prazeroso, mas também suspeitavam que incentivava a dependência emocional. Eles levavam em conta que quando sabemos que há alguém na retaguarda, passamos a confiar nesse suporte às vezes excessivamente – o que em certos casos favorece a dependência. O problema surge quando na falta dessa companhia a pessoa pode se sentir desestimulada e perdida.
Fitzsimons e Finkel recrutaram um grupo de mulheres na faixa dos 30 anos, todas com relacionamentos afetivos estáveis, para participar de um experimento on-line. Eles convidaram representantes do sexo feminino porque estudos passados já haviam mostrado que a maioria das mulheres tem objetivos bastante claros a respeito da busca do bem-estar físico – e os dois psicólogos queriam ter certeza de que as participantes do estudo estariam pensando em metas que fossem realmente importantes para si próprias.
À metade das voluntárias foi solicitado que realizassem um complicado exercício de digitação, com a intenção de esvaziar a mente por completo, e à outra metade foi encomendada uma tarefa bastante simples de digitação. Os cientistas pediram então a algumas mulheres que pensassem num exemplo de situação em que seus companheiros as tivessem ajudado a atingir uma meta real de saúde e preparo físico de longo prazo – por exemplo, consumir alimentos mais saudáveis ou praticar atividade física em conjunto.
Às outras voluntárias foi solicitado que também pensassem no apoio que recebiam de seus companheiros, mas não especificamente na área de saúde; essas mulheres foram tratadas como grupo de controle.
Então, finalmente, os cientistas apresentaram a todas elas uma série de perguntas sobre seu comprometimento em relação ao preparo físico, aos cuidados com a saúde, a respeito do tempo que dedicavam a essas atividades, como as incluíam em sua rotina e quais eram suas metas.
A ideia era verificar se pensar no apoio do companheiro de alguma forma minava o esforço ou diminuía o comprometimento. E foi exatamente isto que os cientistas constataram: mulheres que contavam com a ajuda do parceiro planejaram dedicar menos tempo e empenho para seu programa de saúde e preparo físico na semana seguinte. Além disso, esse efeito foi mais perceptível entre aquelas que tinham “esvaziado a mente”, sugerindo que essas mulheres estariam “terceirizando” o trabalho quando tinham menos autodisciplina ou se sentiam mais sobrecarregadas.
Os cientistas quiseram checar os resultados novamente e fizeram isso de forma bem interessante. Convidaram universitários, de ambos os sexos, e os dividiram em três grupos. Ao primeiro deles Fitzsimons e Finkel pediram que pensassem por alguns minutos em como seus parceiros afetivos poderiam ajudá-los a atingir suas metas acadêmicas. Os da segunda equipe deveriam pensar de que forma os namorados ou cônjuges teriam condição de contribuir para que desfrutassem com mais prazer de suas atividades de lazer, como sair-se melhor em algum esporte praticado despretensiosamente ou conseguir mais concentração na leitura recreativa, por exemplo. Integrantes do terceiro grupo simplesmente pensaram em alguma coisa que admiravam em seus companheiros.
Em seguida, os pesquisadores permitiram que os estudantes escolhessem entre montar (em algum momento, não necessariamente naquele) um quebra-cabeça interessante, mas improdutivo, ou trabalhar em um exercício acadêmico complexo, que teria sido desenvolvido (pelo menos assim lhes foi dito) para melhorar habilidades de resolução de testes. Os resultados foram consistentes com o primeiro experimento: alunos que sabiam ter um companheiro confiável esperando por perto adiaram muito mais que aqueles que apenas pensaram em traços agradáveis do parceiro. Saber que contavam com apoio muito próximo parece ter deixado os alunos menos preocupados em gastar sua energia mental em um mero entretenimento.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores são polêmicos, já que segundo os autores do estudo, ao contrário de tudo o que apregoa o senso comum, dispor de uma pessoa por perto pode ser desvantajoso para aqueles com maior dificuldade de se apropriar dos próprios desejos e propósitos, facilitando sua acomodação. Mas, obviamente, nem sempre a parceria é prejudicial. Fitzsimons e Finkel realizaram outro experimento on-line com um grupo de mulheres que viviam relacionamentos afetivos estáveis. Mas nesse caso, eles também avaliaram o nível de comprometimento das voluntárias em relação a seus companheiros. Conforme relatado em artigo na versão on-line do periódico Psychological Science, os pesquisadores descobriram que as mulheres que delegavam aos maridos e namorados grande parte da responsabilidade por seus esforços para manter a boa saúde e o preparo físico estavam mais comprometidas com o companheiro. Em outras palavras: confiar no parceiro para ajudar a atingir metas pode diminuir o esforço pessoal – e ao fazer isso temos mais energia psíquica para investir no relacionamento, o que costuma beneficiar a relação como um todo. O risco, porém, é cobrarmos do outro caso haja esmorecimento e fracasso ou então dedicarmos a ele todo o sucesso obtido. Nos dois casos é possível haver consequências futuras desagradáveis. Tudo indica, portanto, que a questão crucial não é contar ou não com outra pessoa – mas a forma como fazemos isso e a intensidade dessa atitude.
Para Fitzsimons e Finkel, o resultado do último estudo tem implicações importantes na compreensão de dinâmicas das relações afetivas. Tendemos a pensar em dependência em termos de necessidades íntimas e sexuais, mas essas descobertas sugerem que a subordinação também pode surgir da capacidade única do parceiro de apoiar metas de vida. De fato, companheiros de longa data costumam desenvolver um sistema autorregulador partilhado, que garante a confiança mútua, o que estimula a disciplina necessária para enfrentar os desafios da vida. Em resumo, confiar em alguém para ajudar no autocontrole significa, em alguns casos, minar o próprio comprometimento em relação àquela meta específica. Mas Fitzsimons e Finkel sugerem que haja uma compensação surpreendente: como estamos investindo mais no relacionamento, podemos acabar tendo mais disciplina para atingir os objetivos partilhados pelo casal. Considerando prós e contras, no fim, a cumplicidade sai ganhando.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Autor: Wray Herbert
Sempre tive um bom relacionamento com o meu enteado, apesar das provocações e ciúmes por parte dele.
Eu pensava que era coisa de criança, que iria melhorar, sempre fazia tudo para relevar.
Mas houve um dia em que ele me desrespeitou de uma forma que me magoou muito e, mesmo eu nao agredindo nem verbal, nem fisicamente, ele parou de frequentar a minha casa, com o consentimento do pai, que nao tomou nenhuma posição.
Isso abalou e tem abalado a nossa relação, porque estou super magoada por arrancarem de mim um menino ao qual eu tratava como filho, como se eu não tivesse sentimentos ou como se fosse um saco de pancadas para ouvir agressôes e não ter a chance de sentar e conversar para tentar entender o que acontece.
Agora, será que sou eu que terei que conviver com um menino de treze anos que nao aguenta frustraçoez, que nao pode ser contrariado, mesmo quando agride as pessoas?
Como ele lidará com a faculdade, o emprego, o mundo?