Para os que insistem em dizer que machismo não existe, se tiver o estômago forte, faça como eu: abra o amigo Google e digite “mulher para casar”. Com enunciados como “8 tipos de mulher que não merecem se casar com você”; “Serve ou não serve?” e “Veja 5 itens que os homens procuram em uma mulher para casar”, encontramos elencadas diversas características que, supostamente, as “mulheres para casar” devem apresentar, as diferenciando daquelas que não estão aptas a isso.
Vemos reforçada a ideia de que mulher para casar é aquela focada, dócil, estável em todos os sentidos e que reclama pouco. É aquela que não tem nenhum vínculo positivo com relacionamentos amorosos anteriores. É aquela que jamais conheceremos na balada.
Independentemente do que as listas mágicas dizem, sabemos que a vida sexual de uma mulher é o elemento mais passível de julgamentos e o principal fator que a faz ser – ridiculamente, diga-se de passagem – categorizada entre “pra casar” ou “só pra pegar”. Mulher que já teve muitos parceiros sexuais é vista com maus olhos, enquanto o mesmo não é tão comum com os homens. A regra é clara, dar no primeiro encontro? Muito fácil! Não é pra casar.
Há, ainda, os que com boas intenções têm defendido o contrário: que mulher que dá no primeiro encontro, essa sim é pra casar. Acho isso igualmente problemático, pois defendo a liberdade da mulher de dar quando e quanto ela bem entender, sem que isso seja visto como nada além da satisfação voluntária dos seus desejos. Tentar classificar a mulher que dá no primeiro encontro de forma positiva acaba por corroborar, mais uma vez, com essa categorização limitadora; acaba por invadir a sexualidade feminina e transforma o que é exercício do livre arbítrio em potencialidade para algo que nunca nos é perguntado se queremos: casar.
Para que a indignação fique ainda maior, vale usar a mesma ferramenta de busca e procurar por: “homem para casar”. Percebam que, em meio aos resultados – que deveriam ser, seguindo a lógica da pesquisa anterior, listinhas das características dos “bons partidos” masculinos – encontra-se dicas para as mulheres conseguirem um homem, como “21 passos para conseguir um homem para casar”. Não há dicas de como um homem deve ser, apenas mais características do que os homens procuram em uma mulher para casar. Curioso, não?
É importante que nos questionemos acerca de todo o machismo que se encontra impregnado nesses discursos; que coloca o casamento como sendo o objetivo de vida de toda mulher – que, para tal, deve preencher uma lista requisitos, tornando-a merecedora disso – e o pesadelo de todo homem. O que é preciso para ser uma mulher para casar? Fico com as palavras que ouvi, certa vez, de uma mulher; número um: ser mulher. Número dois: querer casar.
Patrícia Pinheiro
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