Talvez a decisão mais difícil da vida seja se separar de alguém que você ama mas não lhe faz bem.
É lutar contra o amor em nome da saúde emocional.
É algo como escolher entre amar ou viver, entre o ruim e o pior. Sairá derrotado em qualquer uma das opções.
Abandonar um amor amando é amputar uma perna para continuar andando. É perder um pulmão para continuar respirando.
Você sabe que, se não acabar com a história, ela acabará com a sua personalidade. Vai enlouquecer, será subjugado e torturado, sacrificará o discernimento.
Não terá futuro, somente um precário presente. Renunciará aos amigos, à família, ao trabalho, à sanidade para forçar a convivência.
Os raros momentos de harmonia de um domingo não compensam o inferno das semanas.
Ama o outro, porém nunca esteve tão infeliz e angustiado. Ama o outro, porém não desfruta nem da liberdade das distrações.
Ama o outro, porém não se ama dentro desse amor. E um espelho quebrado em casa é muito perigoso.
Todos experimentaram esse dilema em maior ou menor escala. Nem sempre a paixão converge com a paz.
Romper um relacionamento racionalmente exige monumental concentração. Como largar drogas, abandonar cigarro, parar de beber.
Deve-se combater um inimigo que gostaria de abraçar e beijar. A ambiguidade dos sentimentos é revoltante, sendo necessário criar uma frente rígida de rituais para enfrentar a abstinência.
Tem que cortar a carne das palavras, tem que combater a enxurrada das lembranças, tem que se virar com a ansiedade, tem que acordar e fingir que não sonhou com nada.
Tem que trocar de caminho e endurecer o rosto quando o vento convida o olhar a virar para trás, tem que dissuadir a saudade, tem que fugir dos amigos em comum.
Tem que adulterar as declarações, tem que evitar músicas e ciladas, tem que montar na memória um pequeno e anônimo cemitério com uma pilha de pedras.
Nada mais triste do que não poder confiar no coração já que, por amar, não consegue se defender, acreditará nas ofensas, diminuirá de estatura moral até ser insignificante, cederá a vaidade, depois abandonará o orgulho, em seguida pedirá desculpa sem razão nenhuma e aceitará a destruição e os maus-tratos como parte indispensável do romance.
O amor é capaz de matar.
E só um grande amor próprio para nos salvar enquanto ainda é possível reunir os cacos.
Autor: Fabricio Carpinejar
Imagem: unsplash.com
Título original: A decisão mais difícil da vida
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