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A doença tem um propósito?

Você já se perguntou por que ficamos doentes? Será por acaso? Será por azar? Será por castigo?

Ninguém gosta de ficar doente. Entre a saúde e a doença, preferimos estar saudáveis. Você percebe que aí existem pelo menos dois aspectos da dualidade? De um lado a saúde e do outro a doença. E, em seguida, a nossa preferência por um dos polos.

Vivemos em um mundo caracterizado pela dualidade. É o claro e o escuro, o quente e o frio, o Yang e o Yin (princípios do Taoísmo, uma filosofia oriental), a vida e a morte, o Bem e o Mal, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino, o gostar e o não gostar, o querer e o não querer. Estamos completamente imersos na dualidade. E sempre nos falta algo, nos sentimos incompletos, imperfeitos, insuficientes. O que será que nos falta? O que é que tanto tentamos compensar com bens materiais, com divertimento, com comida, álcool, drogas, sexo, sem deixar de mencionar tudo que usamos para nos abastecer de provisões narcísicas, como conhecimento, títulos, sensação de poder, honrarias, elogios que nos vêm do outro. Quando nos sentimos aceitos, integrados, nos sentimos bem. Quando o outro nos acolhe, nós nos sentimos amados, nos sentimos maiores, melhores, mais completos. Parece que a separação que existia entre o “Eu” e o “Ele” ou entre o “Nós” e os “Outros” se esvai, se dissipa, deixa de existir. E essa é uma sensação maravilhosa porque temos a sensação que somos uma Unidade.

Essa separação, essa visão que as coisas são duais, é criada pela mente humana. É ela que entende a realidade como dividida em polaridades opostas. Esses dois polos não existem separadamente, um precisa do outro para existir. Eles são opostos e complementares, eles se unem para fazer o todo, o Um, a Unidade.

A Unidade é o que todos buscamos e ela só pode ser obtida pela conjunção dos opostos.

Todos temos uma sombra, que são aqueles aspectos que afastamos o mais possível de nós mesmos; são os aspectos que não desejamos ver, que não queremos reconhecer que existem dentro de nós. Temos muito medo de nossa sombra. Gostaríamos de expurgar essa sombra porque acreditamos que, somente assim, nós e nosso mundo nos tornaremos bons e felizes. Entretanto, acontece justamente o contrário. A sombra contém tudo aquilo que nós e nosso mundo precisamos para chegar à Unidade. Precisamos da nossa sombra para nos integrar. Caso contrário, seremos apenas metades. Metades as-sombra-das o tempo todo. Assombradas pela outra metade.

E o que a sombra tem a ver com a saúde e a doença? Acontece que é a sombra o que nos torna doentes. A sombra nos faz adoecer porque ela é o que está nos faltando.

Vou citar um livro que explica isso muito bem. “Todo sintoma é um aspecto da sombra que se precipitou no corpo físico. É no sintoma que se manifesta aquilo que nos falta… O sintoma usa o corpo como um instrumento para fazer a pessoa tornar-se outra vez um todo…Se uma pessoa se recusa a viver um princípio em sua consciência, esse princípio desce para o nível do corpo e aparece então com sintoma. Dessa maneira, a pessoa é obrigada a viver e, a despeito de tudo, a manifestar o próprio princípio que rejeitou. É assim que o sintoma providencia a totalidade do indivíduo, ele é o substituto físico do que falta à alma.”*

As doenças se manifestam através dos sintomas. Quando somos obrigados a conviver com nossos sintomas, a lidar com eles, a nos perguntar de onde vêm e por que existem, temos a oportunidade de enxergar e reconhecer aquilo que nos falta integrar dentro de nós em nosso caminho em direção à Unidade. E esse é nosso maior propósito. Voltar à Unidade.

Podemos dizer, portanto, que o caminho de cura é sempre aquele que nos torna mais conscientes de nós mesmos e, portanto, é o que nos leva da polaridade à Unidade.

Diante disso, como ficam suas ideias a respeito da saúde e da doença? Será que as doenças têm um propósito? Devemos combater ou abraçar nossos sintomas? Preferimos estar doentes ou saudáveis?

*Dethlefsen, T.;  Dahlke, R. A Doença como Caminho. 15.ed. São Paulo: Ed. Cultrix, 2008, p.45

Autor: Dra Karen Câmara

Fonte: Fãs da Psicanálise

Natthalia Paccola

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