O tema de hoje, a relação médico-paciente, é um assunto delicado e complexo. Decerto não será esgotado em poucas palavras. Pode-se escrever um livro sobre ele.
Há não muito tempo, a assistência à saúde, assim como a educação, não era considerada direito de todos e muito menos obrigação do Estado. A relação médico-paciente era direta. O doente ou seus parentes estabeleciam a relação com o médico conforme suas necessidades e possibilidades. Quando uma pessoa ficava doente, procurava-se um médico, acertava-se o preço e pronto. Se o serviço fosse satisfatório, procurava-se aquele médico novamente. Caso contrário, procurava-se outro. Como se faz até hoje com outros profissionais como advogados, arquitetos, engenheiros, marceneiros, pedreiros, encanadores. Havia poucos médicos disponíveis e eram poucos os doentes que podiam ser tratados por médicos. A grande maioria se tratava com curandeiros e usava a medicina popular à base de remédios caseiros.
Os conceitos de saúde e doença mudaram, a cultura mudou e a relação médico-paciente também sofreu profundas mudanças. Nem sempre para melhor. Essas mudanças têm a ver com a interposição de agentes intermediários entre as duas partes, o avanço científico e tecnológico da medicina, a forma como os serviços de saúde são estruturados e as transformações de toda uma cultura dentro da qual esses atores estão imersos.
Determinados intermediários passaram a fazer parte dessa relação quando algumas instituições começaram a contratar serviços médicos e oferecê-los a seus associados. Ao mesmo tempo em que isso permitia o acesso de todos os seus membros aos serviços de saúde, por outro lado limitava a escolha entre uns poucos médicos e a disponibilidade a um número limitado de serviços. Esse tipo de serviço se expandiu, mudou de nome muitas vezes, até que chegamos ao serviço público de saúde que hoje conhecemos como SUS. Há também os serviços privados, convênios como Unimed, Amil, empresas de seguro-saúde e outras formas de medicina de grupo que servem de intermediários entre o paciente e o médico.
Apesar de trazer alguns benefícios para todos os envolvidos, a existência de intermediários entre o médico e o paciente produz interferências e distorções importantes nessa relação. Em alguns países, onde os serviços de saúde estão organizados de forma diferente e mais eficiente que no Brasil, vê-se que a relação médico-paciente ainda se mantém, de certo modo, preservada. Entretanto podemos observar que, atualmente, e não apenas em nosso país, a relação médico-paciente está cada vez mais tênue, mais esgarçada, mais prejudicada. Não só os intermediários mas diversos fatores econômicos, sociais e culturais contribuem para esse quadro.
O que podemos dizer sobre a relação médico-paciente? Pode-se dizer que é muito mais que uma relação entre duas partes interessadas, um prestador e um tomador de serviços. É uma relação que envolve compromissos e deveres, uma relação baseada em confiança e responsabilidade, sinceridade e empatia. De um lado o paciente traz sua história, suas queixas, seus anseios, seu voto de confiança, ao procurar um médico de modo a encontrar alívio para seu sofrimento. O doente espera ser acolhido, ouvido, examinado pelo profissional. Ele deseja que o médico se interesse em resolver seu caso e que, com esse objetivo, use sua capacidade técnica para mobilizar os recursos disponíveis de modo a investigar, diagnosticar e propor uma conduta. Ele conta com o empenho do médico em resolver seu problema ou, pelo menos, em minorar sua dor.
O profissional, por sua vez, deve se sentir honrado em receber o paciente, tornando-se responsável por conduzir seu caso até um desfecho satisfatório para ambos. Para isso ele precisa de competência, comprometimento e empatia. Ele precisa considerar seu paciente como um universo que tem que ser explorado e investigado antes de se pensar em qualquer tratamento.
A relação médico-paciente é, antes de tudo, uma interação entre dois seres humanos que depende de comunicação, respeito e amor. Como qualquer relação humana, é complexa, é delicada, está sujeita a altos e baixos, sucessos e insucessos.
Autor: Dra. Karen Câmara
(Imagem: Filme “Patch Adams”)
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A relação entre médico e paciente é de suma importância, nós profissionais da saúde devemos buscar esse contato mais profundamente para que os doentes possam sentir o quanto nos preocupamos com eles e ajudá-los nesse momento de dificuldade.