(R. C. Migliorini)
Quando eu recomecei a fazer um trabalho corporal diferente da fisioterapia, eu estava exausto e desanimado. Mas, com o tempo, eu dei uma relaxada e uma centrada. Ora, um dos fatores enfocado nele é a atitude da pessoa em relação a alguns fatores do meio-ambiente, como força de gravidade e espaço. Dependendo dessa atitude, ela se movimenta dessa ou daquela forma.
Com relação à gravidade, temos dois modos de agir: ceder ou resistir a essa força. Um exemplo do primeiro caso é uma criança dormindo cujo corpo largado fica muito pesado; do segundo, é a resistência que essa mesma criança faz para ficar em pé.
Em geral, as pessoas que procuram a fisioterapia tendem a não se mover ou a não serem capazes de tirar uma parte do corpo do chão ou de uma mesa. Por isso, da mesma forma que o menino, elas lutam contra a gravidade.
Contudo, sabemos que um esforço repetido durante tempo causa fadiga. Esse cansaço “passa” do físico para a mente e causa depressão, estresse, por exemplo. O meu caso, assim como o de pessoas que passam a vida lutando para não cair, tenham elas uma deficiência ou não, acaba sendo esse. Então, a tentativa do meu professor é me ensinar a ceder, a relaxar e a não lutar sempre contra a gravidade.
Isso, ao contrário do que parece em um primeiro instante, nos leva a equilibrar resistência e relaxamento e, consequentemente, a nos movimentar melhor, com mais agilidade e mais desembaraço. E porque aprendemos a resistir nos momentos necessários com as partes do corpo que precisam fazê-lo e a ceder quando podemos, nos cansamos menos. Ou seja, não gastamos mais energia do que é preciso. Assim, o movimento deixa de ser penoso e passa a ser prazeroso.
Pense na mão de um pianista ou no aparelho vocal de um cantor. Além de se afinar o instrumento, também é preciso afinar o corpo que o toca. Afinal, o instrumento é a extensão de um corpo. Da mesma forma, o som que ouvimos emana de um corpo.
Como uma boa interpretação requer modulações, é preciso que o interprete alcance notas altas e fortes e outras bem suaves. E assim como o instrumento, só um corpo afinado é capaz de nuances (a mão de um desenhista também precisa ser capaz dessas nuances). Por isso, eu acho que o cansaço e a exaustão têm remédio, e que todas as pessoas devem afinar o instrumento que possuem ou são, falando de uma forma mais holística. É o que eu penso como bailarino e como pessoa com deficiência.
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