Amor contemporâneo: que seja eterno enquanto valer a pena

Há um traço de nossa cultura que nos torna, necessariamente, ficcionistas. E esse traço é a condicionalidade das relações: é uma constatação que fazemos com facilidade quando se trata de casamento. O laço do casamento existe e dura à condição de que haja amor. A experiência do amor dura se valer a pena.

É normal que seja assim porque é essa condicionalidade que introduziu a modernidade com o triunfo dos afetos e da experiência sobre norma e tradição. Romeu e Julieta, nesse ponto de vista, é o primeiro grande texto moderno, poderíamos dizer.

O problema é que essa condicionalidade se estende a todo campo das relações que não são comandadas por princípios hierárquicos estabelecidos, mas pela qualidade da experiência, sobretudo da experiência afetiva.

Por exemplo: “me respeite porque eu sou seu superior” ou “sou mais velho e mais sábio” não funcionam. Ser meu superior… Isso se ganha. Ou seja, em qual experiência minha você conquistou e mereceu o meu respeito e minha obediência? Essa é, também, uma constatação que aceitamos mais ou menos facilmente: a condicionalidade da hierarquia.

A coisa complica quando ela é aplicada a relações pelas quais temos uma espécie de nostalgia, por exemplo: “honre o pai e a mãe” também não é mais propriamente um mandamento, o mínimo para que valha é exigível que eles, o pai e a mãe, me proporcionem uma experiência de maternagem e de paternagem que valham a pena.

É incrível como ainda há psicanalistas que são carpideiras das obrigações simbólicas perdidas, lamentando a fluidez de um mundo que estaria se desmanchando e, aí, todo mundo puxa o lenço.

Será que não escutam que é tarde para o luto das obrigações simbólicas perdidas? E é, francamente, patético imaginar que o bem-estar de seus pacientes dependa de injeções cavalares da própria ideia tradicional de uma organização social pré-moderna. Eu não sei, para mim é um mistério.

Autor: Contardo Calligaris

Fonte: fronteiras.com

Natthalia Paccola

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  • Hierarquia? ser superior se ganha? Ninguém nem nada é superior ou inferior na totalidade da existência. A grama não é inferior ao pássaro, que não é inferior à maior estrela do universo. São partes do todo, partes orgânicas , são iguais! Assim como as pessoas!

  • Adorei e concordo com o texto!E acrescento com licença:O amor é incondicional mas o relacionamento não, na falta de respeito e dignidade o afastamento se faz necessário!Isso incomoda à religiosos etc..qdo fazemos uma terapia e conseguimos nos resgatarmos!

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Natthalia Paccola

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