Hoje vamos falar sobre uma patologia cuja origem é múltipla e o tratamento é bastante complexo: a esquizofrenia.
Esta é uma doença mental grave que se carateriza classicamente por uma coleção de sintomas, entre os quais alterações do pensamento, alucinações (sobretudo auditivas), delírios e embotamento emocional com perda de contato com a realidade.
A sua prevalência atinge 1% da população mundial, manifestando-se habitualmente entre os 15 e os 25 anos, nos homens e nas mulheres, podendo igualmente ocorrer na infância ou na meia-idade.
SINTOMAS:
A esquizofrenia é uma doença funcional do cérebro que se caracteriza essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas. Embora seja primariamente uma doença que afeta os processos cognitivos, os seus efeitos repercutem-se também no comportamento e nas emoções.
Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma gradual ou, pelo contrário, manifestarem -se de forma explosiva e instantânea.
CAUSAS: são vários os fatores que estão na origem da esquizofrenia. Resumidamente podemos dizer que existe uma causa genética, neurobiológica e psicanalítica.
GENÉTICA:
A teoria genética admite que vários genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o eclodir da doença. Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família.
No entanto, mesmo na ausência de história familiar, a doença pode ainda ocorrer. Segundo Gottesman, sabe-se ainda que cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado
NEURO BIOLÓGICA:
As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial uma disfunção na concentração de dopamina, um importante neurotransmissor, presente no cérebro, embora existam também alterações nas concentrações de outros neurotransmissores envolvidos. A maioria dos antipsicóticos atua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor. Exatamente por isso, alguns sintomas característicos da esquizofrenia podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a atividade da dopamina, por exemplo, as anfetaminas. Esta teoria é parcialmente comprovada pelo fato de a maioria dos fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia atuarem através do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina.
CAUSAS PSICANALÍTICAS :
Resumidamente, o que acontece é que os impulsos primitivos, anteriormente rejeitados e temidos pelo ego, invadem o campo consciente, obrigando o ego a uma última defesa: a perda de coerência do pensamento ou seja, a destruição do processo cognitivo, por não suportar lidar com determinados conflitos.
Impulsos primitivos, de forma geral, são tendências, desejos, sentimentos que a pessoa teme, e não admite te-los.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com a maior parte das doenças psiquiátricas, não se pode efetuar através da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da observação clínica das manifestações da doença ao longo do tempo. Para o diagnóstico, é importante que o médico exclua outras doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos semelhantes, como o abuso de drogas, a epilepsia, tumor cerebral e alterações metabólicas. Portanto, o diagnóstico da esquizofrenia é por vezes difícil.
Em muitos casos, os indivíduos com esquizofrenia foram crianças tímidas, introvertidas, com dificuldades de relacionamento e com pouca interação emocional. Estas crianças podem apresentar dificuldades de atenção e de comportamento e na adolescência, podem apresentar também isolamento e diminuição do rendimento escolar. Estes comportamentos são comuns na adolescência e por isso, podem os ser facilmente confundidos com alguns sintomas da esquizofrenia citados acima. Quando não há uma crise psicótica característica, é difícil diagnosticar, com precisão, a esquizofrenia.
Uma crise psicótica, que é uma perda de realidade, pode ser precipitada por vários fatores, como por exemplo, mudança de casa, perda de um familiar, rompimento com um(a) namorado(a), entrada em uma nova escola ou universidade. Por vezes, o trauma é considerado um acontecimento insignificante pelas pessoas normais. Mas não para o indivíduo esquizofrênico, pois pelo ao fato da sua genética ser desfavorável, seus neurônios têm baixa capacidade de tolerar frustrações, ou mudanças e qualquer acontecimento desagradável, pode de desencadear a esquizofrenia.
Neste tipo de doença, é raro o indivíduo ter consciência de que está realmente doente, o que torna difícil a adesão ao tratamento.
Um dos maiores medos que a pessoa com esquizofrenia sente é o de ser estigmatizada por preconceitos sociais relativos a sua doença. Especialmente a idéia de que a pessoa esquizofrênica é violenta, perigosa, é incorreta, pois estudos recentes mostram que isto não tem base científica.
É bastante útil que o doente tenha conhecimento sobre a doença e os seus sintomas e que tenha um papel ativo no tratamento e controle sobre a mesma. Sendo por isso vantajoso que estes sigam alguns cuidados:
O papel ativo da família é essencial para o tratamento. A reabilitação e reinserção social do indivíduo que sofre de esquizofrenia é muito importante.
Muitas famílias procuram o apoio dos profissionais de saúde, para superarem as dificuldades que encontram. No entanto, há aquelas que não o fazem, e assim correm o risco de se desestruturarem.
A família deve estar preparada para o fato do doente poder ter recaídas ao longo do tempo, o que pode conduzir a um possível internamento hospitalar, o que é relativamente comum.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO.
Os medicamentos são essenciais para o tratamento da esquizofrenia, assim como a psicoterapia que complementa este tratamento.
Há uma resistência natural, pelo doente, ao uso destes medicamentos, chamados anti psicóticos, porque freqüentemente causam muitos efeitos colaterais, sendo alguns deles muito graves.
As medicações, portanto, só fazem ajustar o que estava desajustado. Infelizmente no caso da esquizofrenia, não se conhece uma medicação capaz de realizar essa tarefa completamente, restabelecendo a normalidade do paciente.
Por enquanto, os medicamentos proporcionam uma ajuda parcial, porém indispensável para proporcionar ao doente uma vida próxima ao normal.
Juntamente com os medicamentos, a maternagem na terapia, o amor dos familiares, o trabalho voluntário quando possível, levam o paciente esquizofrênico a resgatar um pouco o prazer de viver e interagir com as pessoas!
Até a próxima!
Autor: Maria Helena Fantinati
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Parabéns Maria Helena Fantinati!
Uma explicação convincente, fundamentada, e embasada em argumentos validados pela pesquisa científica, em especial, pela produção teórica do eminente Prof. Dr. Geraldo J. Ballone, uma das maiores autoridades brasileiras em Psicopatologia.
atenciosamente,
Prof. Reinaldo Müller > "Reizinho"
Fui diagnosticado com esquizofrenia a três anos. O artigo esta maravilhoso.
Muito esclarecedor o artigo.
Maria Helena ! Por gentileza, você poderia citar as referências que consultou quando fala sobre a associação de anfetaminas e o surgimento de sintomas característicos da esquizofrenia? Grata!
Acredito que se a pessoa ficar alguns meses sem tomar leite a esquizofrenia acaba .
Me disseram esta semana que estou com suspeita.?!
Gostaria de mais informações ouvreferencias sobre o assunto.
Abraços
Mirtes.
Texto muito esclarecedor!
O que fazer quando a pessoa se recusa a fazer o tratamento?