Todo mundo gosta de acertar, receber elogios, chegar na frente. Mesmo sem admitir, cultivamos o sonho – inalcançável, que fique claro – de dar conta das mais variadas demandas, ter todas as respostas, a forma e o conteúdo adequados. Talvez, o que queiramos mesmo é ser perfeitos. Mas a quem se destina esse ideal? Quem é esse outro em nossa história ao qual endereçamos o desejo tão almejado de aceitação e reconhecimento? Essa busca sem fim é muito bem representada pelo mito grego de Sísifo, que repetidamente leva uma pesada pedra ao alto da montanha, até vê-la rolar para o chão e de novo empurrá-la para cima.
Tal qual coelhos brancos (feito aquele da história de Alice) consultamos nossos relógios – celulares, tablets e tantos outros sofisticados equipamentos tecnológicos – e concluímos, ansiosos: estamos atrasados. E é justamente nessa relação autoidealizada que, por vezes, nos perdemos.
Em tempos líquidos e vorazes, regidos pela força da urgência, precisamos estar prontos – para o que quer que seja. Ainda que a ideia de perfeição seja frágil, volátil e, principalmente, sujeita ao filtro do olhar do observador, ela paira sobre nós como uma espada de Dâmocles, capaz de nos impedir de ver o óbvio: informação, por si só, não é suficiente. O que pode aplacar, ao menos em parte, a angústia e a insatisfação é a descoberta da capacidade de refletir e “combinar” o que o ambiente nos oferece com a experiência pessoal – um processo que exige espaço psíquico e tempo para apropriar-se do saber. Assim, o que chamamos de imperfeição, pode ganhar conotações menos opressivas e variações mais úteis e necessárias – resultado da variedade dos arranjos psíquicos únicos e de artimanhas da criatividade.
Fonte: blog Pensar Psi
Autor: Gláucia Leal
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