Você é feliz? Você está feliz agora? A resposta é mais complicada do que parece. Perceba a diferença nas duas perguntas. Na primeira, eu perguntei se você é feliz, ou seja, se está satisfeito com o andamento da sua vida. Na segunda, perguntei se você está feliz neste momento, lendo esta revista. E, somando essas duas coisas, qual é o saldo final? Feliz ou infeliz? Provavelmente, você hesitou antes de responder. Isso é normal. E acontece porque a felicidade é uma combinação meio complicada, uma mistura do presente com o passado. Você pode estar adorando este texto, mas triste porque foi mal numa prova ontem. Ou pode estar apaixonado por alguém, feliz da vida, mas achando esta conversa meio chata. A felicidade é uma combinação do presente com o passado. Só que o presente dura muito pouco. Para ser mais exato, 3 segundos.
A cada 3 segundos, ele se torna passado. Essa ideia surgiu em estudos do psicólogo francês Paul Fraisse e hoje é aceita por diversos pesquisadores, como o também psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel. Após 3 segundos, todas as informações que passam pela sua cabeça saem da consciência e são arquivadas nos sistemas de memória do cérebro. Isso significa que você enxerga a própria vida, fundamentalmente, através da memória. E isso tem uma consequência enorme: na prática, ela é o fator que mais pesa na felicidade. Mas está longe de ser confiável. Quase sempre nossas lembranças omitem ou distorcem detalhes do que aconteceu.
Pense num álbum de fotos. Você vai encontrar imagens do seu aniversário, do nascimento de um sobrinho, das últimas férias. Uma foto pode registrar um momento sorridente seu e de seus amigos numa festa. Na imagem, todos parecem felizes, e você relembra o momento com carinho. Mas o sorriso da foto não registra, obrigatoriamente, a forma como você se sentia naquele dia. Todo mundo já posou sorridente para um retrato mesmo se a festa estava chata. Ao abrir o álbum, no entanto, você nem sempre vai lembrar que a cerveja estava morna, que a carne do churrasco passou do ponto e do amigo que contava piadas ruins. A sua memória funciona como esse álbum.
A ciência está começando a entender como esse processo acontece. A memória é influenciada por dois mecanismos. O primeiro é a negligência sobre a duração das nossas experiências, ou seja, um instante de alegria intensa vale mais do que uma semana de felicidade moderada. E o segundo é a tendência a atribuir muita importância aos momentos que vêm por último, ou seja: se você for assaltado no último dia das suas férias, certamente se lembrará delas de forma ruim, mesmo que antes tenha passado 15 dias maravilhosos na praia. É como em um filme. As reviravoltas e o final são mais marcantes do que o restante da história. E isso pode nos levar a julgamentos equivocados.
“A memória negligencia a duração [dos eventos], e isso não colabora com nossa preferência por prazeres prolongados e dores curtas”, diz Daniel Kahneman em seu novo livro, Thinking, Fast and Slow (“Pensando, Rápido e Devagar”, ainda sem tradução para o português). Numa experiência coordenada por Kahneman, voluntários colocaram uma das mãos em um recipiente com água bem gelada. Com a outra mão, os participantes utilizavam um teclado para digitar a intensidade da dor. Cada voluntário mergulhou a mão duas vezes. Na primeira, ficaram 1 minuto com a mão submersa na água a 14 ºC. Na segunda, a temperatura era a mesma – mas era preciso suportar 30 segundos a mais. Só que nessa segunda vez Kahneman aplicou um truque. Nos últimos 30 segundos de sofrimento, ele injetou um pouquinho de água morna na vasilha. Era muito pouco, o suficiente para elevar a temperatura em apenas 1 grau. Uma mudança praticamente imperceptível, que não aliviava nada o sofrimento dos voluntários. Era um truque para mostrar como a memória engana as pessoas e pode fazê-las tomar decisões irracionais. Deu certo: 80% dos voluntários disseram que, se fossem obrigados a repetir a experiência, prefeririam o mergulho longo, que os faria sofrer por mais tempo. Por que escolher o mergulho que dura mais? Se fôssemos totalmente racionais, escolheríamos o sofrimento mais curto. As pessoas foram iludidas pela água morna – que dominou as memórias delas, simplesmente porque veio por último. “O estudo das mãos geladas mostra que não podemos confiar totalmente nas nossas escolhas. Preferências e decisões são moldadas pelas memórias, e as memórias podem estar erradas”, acredita Kahneman.
Agora transponha essa ideia para a sua vida. Imagine que, no final das suas férias, todas as fotos e os vídeos que você gravou serão apagados e você vai tomar uma poção mágica que vai apagar todas as memórias da viagem. Seria horrível. As memórias das férias são tão importantes quanto as férias em si. A foto e a possibilidade de compartilhar a viagem com familiares e amigos são partes fundamentais da própria viagem. E isso leva ao primeiro segredo para influenciar a memória: buscar experiências que rendam muitas lembranças – mesmo que elas não sejam necessariamente o que você mais deseja fazer.
A emoção da memória
Pegue as fotos do seu aniversário. Você provavelmente se lembra de quem esteve nele, o que foi servido, as conversas com os amigos. Também se lembra de onde estava, e o que estava fazendo, quando os aviões atingiram o World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Mas você se recorda do dia 10 de setembro de 2001? Aposto que não. E isso acontece porque a sua memória não foi desenvolvida para guardar tudo. “Temos a tendência de nos lembrarmos melhor de coisas que têm colorido emocional”, explica a pesquisadora Lilian Stein, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em memória emocional. A memória privilegia os momentos em que vivemos as emoções mais fortes. É um recurso evolutivo. Na natureza selvagem, fazia sentido preservar em detalhes os episódios em que fomos ameaçados por predadores. Isso nos ajudava a aprender com a experiência. Um experimento realizado pelos pesquisadores Daniel Reisberg, Friderike Heuer, John McLean e Mark O¿Shaughnessy provou que as situações de medo são as mais gravadas na memória – numa escala de 0 a 1, obtiveram pontuação de 0,9, praticamente empatadas com as situações tristes (0,89) e com vantagem sobre os momentos alegres (0,71). Em outro estudo feito por 3 universidades americanas, cientistas exibiram um vídeo com cenas de violência a dois grupos de estudantes. Os pesquisadores fizeram duas edições diferentes do filme, ambas com 1min33s de duração. A única diferença era o meio da história. Uma das edições continha uma cena de assassinato e a outra não. O grupo que assistiu à versão violenta se lembrou de muito mais detalhes do vídeo. Conclusão dos cientistas: os episódios dramáticos da vida geram memórias fortes.
É por isso que ficamos entediados com as obrigações do dia a dia: a rotina não produz sentimentos intensos. A memória é refém dos picos de emoção, como frustrações ocorridas no trabalho e finais de semana alegres. Por isso, para ser feliz, evite a todo custo situações que possam gerar memórias negativas (como um emprego ruim), mesmo que elas também prometam alguma recompensa (salário alto). O contracheque gordo tende a virar rotina depois de um certo tempo, mas as frustrações ficam marcadas na memória.
Nas férias também é assim. É muito melhor fazer duas viagens de 15 dias do que apenas uma de 30 dias. Isso porque as 2 viagens irão gerar mais lembranças diferentes (o que alimenta positivamente a memória). E você estará evitando a rotina – uma sensação inevitável de passar 30 dias no mesmo lugar.
Não confie demais nas próprias memórias. O simples ato de se lembrar de uma coisa é o suficiente para distorcê-la. Outro estudo, feito pelos pesquisadores Ulric Neisser e Nicole Harsch, entrevistou pessoas dias após o acidente com o ônibus espacial Challenger, que explodiu durante seu lançamento em 1986. A pergunta era: onde você estava quando soube da explosão do Challenger? Quase 3 anos depois, os cientistas voltaram a falar com os voluntários e descobriram que as informações haviam sido radicalmente alteradas na memória deles (em alguns casos, com lembranças totalmente opostas). Apesar disso, os entrevistados mantinham total convicção e relatavam minuciosamente os detalhes, como se o acidente tivesse ocorrido no dia anterior – mesmo que tudo aquilo não passasse de memórias falsas.
Isso tem uma explicação neurológica. As memórias são armazenadas na forma de conexões semipermanentes entre neurônios. Quando você se lembra de alguma coisa, essas conexões se tornam instáveis e quimicamente sujeitas a modificações e distorções. A cada vez que você acessa uma memória, ela pode ser alterada. É possível reprogramar lembranças ruins. “Quando utilizamos as nossas memórias, a informação fica suscetível a mudanças, durante um tempo que pode durar horas”, diz o cientista Martín Cammarota, da PUC-RS. E essa maleabilidade é importantíssima. Imagine um homem pré-histórico que precisa atravessar um rio para buscar comida. Na primeira vez em que tentou cruzar as águas, viu que o rio era muito fundo, desistiu e registrou em sua memória que o rio não podia ser atravessado. Meses depois, viu outra pessoa tentando – e conseguindo – atravessar o rio em outro ponto. Se as memórias fossem imutáveis, essa informação não entraria na cabeça do primeiro homem – que continuaria achando o rio algo intransponível. As memórias ficam instáveis quando as acessamos justamente para permitir que novas informações sejam agregadas a elas. Se a memória humana fosse 100% imutável, ninguém conseguiria aprender nada.
Vamos aplicar esse conceito na sua vida. Talvez você já tenha passado por um emprego difícil. Logo depois de pedir demissão, fica com uma memória ruim do tempo que passou nesse trabalho. Chefe carrasco, colegas cruéis, salário baixo, tudo isso vem à mente quando você recorda esse período ruim. Mas aí você consegue um emprego melhor e, tempos depois, o antigo trabalho ganha nova interpretação. Você passa a achar que o período foi importante para amadurecer, que aprendeu muita coisa no emprego antigo. E vive mais feliz. Esse tipo de alteração acontece naturalmente, mas também pode ser induzida ou controlada. Pesquisadores da Universidade de Montreal e da Universidade Johns Hopkins estão desenvolvendo drogas que poderão ser capazes de apagar memórias negativas da cabeça de uma pessoa. O objetivo é tratar ex-combatentes de guerra. Mas é possível que, em algum ponto do futuro, essas substâncias estejam disponíveis para qualquer pessoa.
Enquanto os remédios desenhados para atuar na memória não chegam às farmácias, você pode utilizar outras técnicas para lidar melhor com suas recordações. A readaptação de memórias é um processo natural que acontece a todo momento sem que você perceba. Não temos total controle sobre esse mecanismo nem os cientistas estão convictos do nosso poder sobre ele. Mas existem dois campos da ciência que comprovadamente podem ajudar a controlá-lo: a Psicologia Positiva e as terapias cognitivo-comportamentais. Lembra-se daquele exemplo do emprego ruim? Você só conseguiu ter um novo olhar sobre o passado porque encontrou um trabalho melhor. Dependemos de uma vida feliz no presente para conviver melhor com os acontecimentos do passado e para produzir boas lembranças das coisas que estamos vivendo agora. Mas não serve qualquer tipo de felicidade. É preciso buscar um tipo específico de felicidade, que dribla as limitações da memória humana. O truque é provocar variações no cotidiano, o que fará com que ele se enquadre na categoria de eventos “diferentes” e acabe gravado na memória. “Os hábitos são uma grande oportunidade, porque podemos mudá-los”, diz James Pawelski, da Associação Internacional de Psicologia Positiva.
Faça coisas diferentes. Se você janta fora toda sexta-feira, por exemplo, passe a frequentar restaurantes diferentes. Nada garante que você vá gostar deles, mas o sabor de novidade é ótimo para a formação de memórias. Na pior das hipóteses, a variação fará com que o restaurante de sempre volte a ter graça. “Se você está acostumado a comer caviar, daqui a pouco vai querer um caviar mais sofisticado para sentir prazer. Mas, se ficar um tempão sem comer caviar, qualquer caviar será bom”, explica Ricardo Wainer, professor da PUC-RS e especialista em terapia cognitivo-comportamental. O mesmo vale para viagens, exercícios e praticamente todos os hábitos do dia a dia.
A felicidade diferente
Também é fundamental ter objetivos. Onde você quer estar daqui a 1 ano? Ter metas é importante porque influencia o presente – e, como o presente só dura 3 segundos (lembra?), a memória. Imagine um velho empresário bem-sucedido relembrando os primeiros anos do seu negócio. Ele vai lhe contar das dificuldades e dos sacrifícios com entusiasmo e provavelmente vai encerrar com uma expressão do tipo: “Bons tempos”. Na memória dele, a fase de construção do novo negócio foi arquivada com cores alegres porque ele tinha uma meta, enxergava sentido no sacrifício. Trabalhar 18 horas por dia, se alimentar mal, operar com as contas no vermelho, lidar com problemas o dia inteiro: atividades que queremos evitar ao máximo e que costumam ser arquivadas como eventos ruins. Mas, quando associadas a um objetivo de vida, pulam para o grupo das memórias positivas.
O segundo caminho é encontrar alguma coisa de que você goste muito, mas muito mesmo. Você já deve ter feito alguma atividade na vida em que pensou “Puxa, eu poderia passar a vida inteira fazendo isso”. Essa sensação de parar o tempo tem uma importância maior do que parece. Músicos passam horas em concentração profunda aprendendo um trecho complicado de uma música. Para quem toca um instrumento e não sente a sensação de parar o tempo, destrinchar compassos difíceis pode ser uma tortura e vira motivo para abandonar o violão ou o piano. Afinal, você tem uma memória negativa dessa tarefa.
Mas quem sente uma concentração absoluta, quem não vê o tempo passar diante de uma atividade complicada (e agradável), vai querer repetir a experiência, e as 5 ou 6 horas sentado na mesma posição repetindo uma melodia à exaustão se tornarão uma memória positiva. E a coisa vai além.
Segundo Martin Seligman, psicólogo da Universidade da Pensilvânia, pessoas felizes costumam relatar a necessidade de repetir com frequência a experiência de “parar o tempo”, um conceito conhecido como “fluxo”. “Você se sente totalmente em casa”, explica Seligman em um artigo do livro The Mind (“A Mente”, sem tradução para o português). “O que você tira disso não é a propensão de rir bastante. O que você atinge é um fluxo, e, quanto mais você investe nas suas maiores forças, maior o fluxo que você atinge na sua vida”, completa. É como se os benefícios dessas experiências prazerosas irrigassem satisfação para outras áreas da vida, criando condições para que você estabeleça um fluxo positivo para produzir memórias mais interessantes sobre o presente e para reinterpretar recordações do passado. Um emprego ou uma aula chata podem se tornar suportáveis se você consegue parar o tempo quando chega em casa, fazendo uma coisa de que gosta muito. Alguns sortudos conseguem atingir esse nível de concentração e prazer no próprio trabalho, outros em hobbies como a música, a jardinagem e as tarefas manuais. Seja qual for a sua escolha, boas memórias dependem do contato com essa fluidez. Quando sentimos a felicidade acontecendo no presente, e não somente no passado.
Memórias incríveis
Transformar o ordinário em extraordinário. Essa é a chave para criar mais lembranças boas
Drible o esquecimento
A memória não registra o que acontece na maior parte do tempo. Ela grava os momentos de maior emoção e/ou que acontecem no final de uma experiência (férias, por exemplo). Para o cérebro, um instante de alegria pura vale mais do que uma semana de bem-estar moderado, cujos detalhes fatalmente acabarão descartados pela memória e não ajudarão você a se sentir feliz no futuro. Por isso, é fundamental criar o máximo de momentos bons – e registrá-los da forma mais detalhada possível.
Multiplique por 2
Divida as férias em 2 períodos de 15 dias e visite 2 lugares diferentes, pois assim você produzirá 2 conjuntos de memórias prazerosas.
Cuide dos finais
Nosso cérebro foi programado para perpetuar os desfechos. Lembre-se disso e deixe bons momentos reservados para o final de cada episódio da vida, seja uma viagem de férias, seja uma festa com os amigos. Ir embora antes que a animação da festa caia é uma boa ideia para registrar uma memória feliz daquele momento.
Memórias esquecíveis
Coisas ruins acontecem. Com todo mundo. Mas você pode se livrar delas
Reinterprete o passado
Lembranças ruins são fortes, mas elas podem ganhar um novo significado com o passar do tempo. A ciência já provou que as memórias passam por um período de instabilidade sempre que você se recorda de alguma coisa. Isso significa que elas estão sujeitas a ganhar novas informações – e, sim, serem alteradas. É possível reinterpretar lembranças negativas. Basta que você passe por alguma situação feliz – ela cria um novo contexto, que permite transformar as memórias ruins.
Evite o que é ruim
Não adianta encarar uma rotina infeliz em troca de compensação social ou financeira. A alegria que você sente nos seus momentos de lazer dificilmente irá compensar a infelicidade que reina na maior parte do tempo.
Repense as experiências
Se você passou anos num emprego horrível, mas agora está num lugar melhor, lembre-se de que aquele sofrimento ajudou você a crescer, foi fundamental para forçá-lo a buscar algo novo. Uma memória ruim se transforma em algo bom.
Memória felizes
Mude a sua rotina – e assim construa um novo presente, um novo passado e um novo futuro
Produza lembranças melhores
Um estudo da Universidade de Michigan mostrou que voluntários melhoravam a avaliação de suas vidas quando encontravam uma moeda perdida (que havia sido plantada secretamente pelos pesquisadores). O inesperado é uma arma poderosa para produzir boas lembranças e para quebrar a rotina. A chave é buscar um cotidiano rico em novidades – mesmo que à primeira vista elas não pareçam grande coisa.
Persiga o diferente
Faça coisas novas. Por exemplo: comer coisas de que você não gosta. Isso irá criar memórias fortes – mesmo se você não gostar do sabor do jiló, a experiência (e a lembrança dela) fará o arroz com feijão parecer mais saboroso.
Faça o tempo parar
Encontre alguma coisa de que você gosta muito, mas muito mesmo de fazer, o suficiente para esquecer o tempo que passou fazendo aquilo. Esse tipo de atividade gera um tipo diferente de bem-estar, extremamente positivo – e poderoso -, que vai produzir um contexto de vida mais feliz. Isso permite que você reavalie suas memórias com tonalidades mais alegres.
Para saber mais
Thinking, Fast and Slow
Daniel Kahneman, Farrar, Straus and Giroux, 2011
Florescer
Martin Seligman, Editora Objetiva, 2011
The Mind
Vários autores (editado por John Brockman), Harper Perennial, 2011
Memory and Emotion
Vários autores (editado por Daniel Reisberg e Paula Hertel), Oxford University Press, 2003
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excelente texto!
Eu vivi quatro anos bem felizes,alegres em minha vida pessoal e familiar,sempre brinquei com meus filhos e marido juntos,e levava a vida com muita leveza,os problemas não me atingiam a ponto de me paralisar,não fugia deles,os encarava e até nem os sentia como problemas,mas há algum tempo,uns 14 anos para ser mais precisa,venho sofrendo muito,adoeci com transtorno de pânico e isso mexeu com toda minha estrutura psicológica,parece que virei outra pessoa,não consigo ter aquele sentimento de alegria que eu tinha,não interajo com meus filhos,hoje adolescentes,como achei que sempre faria,pois tive uma adolescência muito frustrada e desamparada de compreensão,e nunca quis isso para meus filhos,sou muito próxima de meus filhos,converso com eles,mas não com a intensidade e frequência que desejava,estou muito apática e desanimada com o rumo que fui deixando minha vida tomar,hoje estou morando ao lado de minha mãe e parece que isso está me fazendo uma mal imenso,pois as brigas voltaram e os dias tensos também,nossa relação sempre foi difícil,achei que essa seria uma oportunidade de melhorá-la,mas ela continua opressora e vigilante como se eu fosse uma irresponsável e perto dela eu me torno o tipo de pessoa que já havia deixado de ser há muito tempo,longe dela eu estava feliz,mas nossa relação é tão estressante que não consigo expressar o melhor de mim,isso faz eu me sentir muito mau,faz eu me sentir a pior filha,afinal,como pode uma filha não entrar em sintonia com sua mãe?Mas o pior é que com essa situação eu estou sendo uma péssima mãe,estou me irritando fácil com meus filhos,qualquer coisa que meus filos façam e que ela julga errado,ela vem me contar em um tom de crítica que me irrita,me aborrece ,parece que ela espera que eu aja igual a ela,como fazia comigo e como eu ajo diferente,ela acha que não estou sabendo educar meus filhos,tem horas que minha cabeça parece que vai explodir,estou me sentindo sufocada,reprimida,desanimada,acho que até depressiva,mas estou voltando para o psiquiatra que me acompanha, esses dias.Às vezes acho que sair de perto dela vai me libertar de novo,pois foi exatamente por esse comportamento opressor que sai de casa aos 21 anos,eu tinha uma sede de liberdade e me sentia presa,até hoje sou uma pessoa que em dificuldades de tomar decisões,que não sabe no que quer trabalhar,tenho 41 anos e até hoje a única coisa que fiz,e que é o que eu mais amo,é ser mãe,esposa e cuidar da nossa casa,nesse ponto me sinto realizada,mas minha mãe não entendi isso,não gosto de trabalhar fora,gosto de arte,acho que seria uma ótima artista em qualquer parte das artes,mas lá em casa todos tinham que pensar em um trabalho de carteira assinada,frustrante para quem gosta de liberdade de expressão como
eu,termino aqui ou escreverei um livro sobre minha vida,obrigada pelo espaço.
Lembro-me com nostalgia mesmo dos meus dias de depressão profunda. Quando se é honesto, se tem olhos para paisagens novas e ouvidos para música nova, não é preciso ir atrás de tempo perdido, porque não há tempo perdido.