“Só se sabe a dor de uma ferida aberta, quem nunca teve uma cicatrizada” Mayanne Gabrielly
Dos vários tombos que levamos, nenhum é igual o outro. Há alguns que a medida que o tempo avança, o roxo da pele vai amenizando, até que no lugar onde antes brilhava a pele, nada mais é visto. Já outras feridas ficam abertas, é preciso ir ao médico, usar medicamentos, e elas demoram para serem cicatrizadas. Existem alguns machucados que quando parecem ter curado, ficam infeccionados. Assim são as marcas violentas da vida em nosso corpo, assim é a ação do tempo.
Mas e as marcas que o tempo não cura e aquelas que marcam a mente e que necessitam de um cuidado especial? Como cuidar das cicatrizes na alma? Estas feridas também tem nome, que podem ser: traição, abandono, injustiça, decepção, mágoas, luto, humilhação, etc.
Quando descuidamos de um ferimento na pele ele pode infeccionar, quando descuidamos de uma doença ela pode piorar e até nos levar à morte. Com as feridas emocionais acontece o mesmo, ignorá-las não é a melhor opção. Ferida não cuidada cresce.
A realidade: as feridas emocionais não são curadas com o tempo
Uma citação bonita mas que agrega uma mentira “O tempo curará as suas feridas”. Você pode até precisar de um bom tempo para ganhar fôlego e conseguir cuidar bem do seu machucado, mas lhe garanto que não há mágica, um tormento não se aquieta só porque você deu tempo para ele. Você quer colocar uma focinheira no monstro que grita dentro de você e acha que nenhum mal isso pode causar? Quanta ingenuidade!
Essa é a maior mentira que sempre nos contam pois acham que conseguem iludir a dor, o tempo não cura nada, quem cura uma dor é medicamento, é cuidado real, deixe uma ferida aberta, ao léu e tente ver se ela fica cicatrizada sozinha. Quanta ignorância!
Uma dor passa quando você dá atenção para ela, vê do que ela necessita e lhe dá o tratamento correto. Quando não houver mais motivos que lhe façam sentir dor, amargura, rancor, mágoa, essa ferida estará cicatrizada.
Não “tapar o sol com a peneira”
Já ouviu esse ditado antigo: “tapar o sol com a peneira”? É uma analogia com deixar apenas que os raios mais fortes alcancem você.
Essa na verdade é uma covardia das grandes. Essa distração em usar uma peneira para deixar apenas os miúdos da dor saírem provoca o mesmo efeito que o tempo. Ela nos distrai enquanto tentamos cobrir ou ignorar o que nos faz sofrer, a parte grossa que fica na peneira. Mas, o que acontece quando a massa grossa não passa pelos buraquinhos da peneira? O que acontece quando você não tem essa ferramenta?
Você superlota a sua capacidade mental de conflitos que foram se acumulando. Fazer compras em demasia, comer feito um glutão, fazer sexo sem vontade, lavar as mãos a todo momento, comer gelo, arrancar o cabelo, correr centenas de metros… esses são exemplos do que uma pessoa que sofre é capaz de fazer para esconder a sua dor emocional que necessita ser resolvida.
Essa distração momentânea é apenas um acalento temporário para uma dor latejante.
Existem crenças que as pessoas nos contam ao longo da vida, talvez porque enquanto estamos distraídos as pessoas acreditam que estamos bem. Podemos até nos divertir! O problema vem depois, quando toda essa distração acaba. Você já deve ter ouvido algumas dessas: “você precisa de terapia, ter a pia cheia de louças” ou “vá praticar um exercício que você esquece esse namorado que te traiu”.
Uma dica valiosa: não se distraia fugindo da sua realidade. Olhe o seu monstro de frente, converse com ele. Não se iluda ao brincar de peneirar as suas emoções. Ninguém gosta de tocar na ferida, não queremos que você seja masoquista, por isso mesmo: é melhor olhar um problema e resolvê-lo do que prolongar esse sofrimento que pode aflorar a qualquer momento.
Você não precisa ser forte
Eu abomino essa frase, repito: Você não precisa ser forte. O que você precisa é de coragem! Algumas pessoas dizem que a dor que afeta a mente chega a doer mais do que aquela que afeta ao corpo. É natural: as dores psíquicas não são nitidamente vistas no corpo. E você ainda tem que engolir o seu choro, você tem que ser forte?!? Onde está a caridade, a compreensão das pessoas que pedem isso para você.
Se você está lendo esse artigo e conhece alguém que está nessa situação, que você sabe que sofre, não fale nada, vá ao encontro dessa pessoa e dê um abraço solidário, pois como ela você também passará por isso, é inevitável. A dor compartilhada é mais amena.
Você não precisa ser forte. Você pode sentir raiva, você pode sentir dor, você pode chorar, você pode e deve extenuar todas as dores que estão dentro de você. Não mascare as suas emoções, não enterre os seus sentimentos, você pode e deve dar vazão à tudo o que está lhe deixando péssima.
Quando você não aguentar: busque ajuda. Não há humilhação nenhuma em precisar de ajuda para aprender a tratar das suas feridas emocionais. Quando a dor é insuportável o melhor que você faz para si e para quem gosta de você é gritar por socorro.
Nunca lhe disseram: não deixe para amanhã o que pode fazer hoje? Você pode utilizar esse ditado popular nessa situação. Não deixe de agir por vergonha ou medo do que possam pensar de você.
*Este texto é parte integrante de um conjunto de treinamentos de Natthalia Paccola, não deve ser copiado sem citar a fonte e a autoria, com os links. Para palestras e consultoria com a autora, escreva para: fasdapsicanalise@hotmail.com
(Imagem: Sarah Diniz Outeiro)
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