Muito se fala sobre o desenvolvimento infantil.
- quanto o bebê e/ou a criança está crescendo e aumentando de peso;
- Os psicólogos: a questão do comportamento;
- As mamães: sobre cada aspecto novo observado após o nascimento do bebê…
E assim, cada qual em sua área.
Por que pensar justamente na visão de nossos infantes?
Primeiramente porque há uma cultura de que o bebê recém-nascido “só percebe luz”, como retrata a Dra. Regina Cele (Oftalmologista Especialista e Membro da Sociedade Brasileira de Glaucoma.). Mas, o quanto de luz os olhos de nossas crianças em desenvolvimento podem suportar? O que faz bem? O que prejudica a visão?
Dr Graciela Brum (Especialista e Mestre em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo (USP), Membro da American Academy of Ophthalmology), enfatiza que “Ao nascer, a criança tem pouca visão e ainda “não sabe como enxergar”. Aprendemos a ver assim como temos que aprender a falar, andar, etc. Para que haja desenvolvimento normal da visão, são necessárias boas condições anatômicas e fisiológicas para todo o sistema visual (olhos, nervos ópticos e sistema nervoso central). Além disso, o sistema visual precisa ser estimulado, assim como precisamos receber estímulos auditivos para aprender a falar.”. Porém fica a questão: o quanto de estímulos visuais? Quais estímulos são apropriados? Os estímulos de luz mais intensa como tv, computadores e tablets faz bem?
A grande maioria dos especialistas enfatiza que criança precisa brincar e ter estimulações adequada à cada fase da infância. Televisão e jogos eletrônicos, desenhos infantis não estão na lista de atividades saudáveis. Muitas vezes, sem perceber, enquanto pais expomos os bebês e crianças a estímulos visuais muito intensos e que podem prejudicar o desenvolvimento da visão. Você já percebeu o quanto de colorido há nas imagens da tv, computador e tablets? Será que todo esse colorido faz bem?
Pesquisas nessas áreas não estão concluídas, pois a inserção dos menores em contato com a tecnologia é algo recente. Atualmente o colorido e tamanho das tvs estão maiores e mais intensos.
Porém, toda mãe percebe o “estranhamento” de seu bebê frente a alguns estímulos. Ou a fixação do olhar de seu filho maior para com alguns programas. Será que esses estímulos os fazem aprender a ver? A olhar?
Dr. Augusto Magalhães (Oftalmologista de crianças), cita “O estímulo visual permite que os vários módulos da visão se desenvolvam. Estes módulos incluem aspectos relacionados com o movimento, a orientação, a cor e a disparidade binocular. Adquiridas estas competências da responsabilidade do córtex visual, o bebê começa a ter a capacidade de, por um lado, integrar todos estes aspectos de forma a conseguir formar a representação cerebral de um objeto e, por outro, segmentar esta informação para que esses objetos possam ser distinguidos do background e dos outros objetos. A fixação e a atenção são posteriormente integradas no fenômeno visual. A capacidade de decidir pela fixação num determinado objeto ou porventura mudar essa fixação para um novo objeto representa uma nova competência mais complexa que exige um desenvolvimento cortical só adquirido pelos cinco, seis meses de idade. Toda esta evolução está integrada num desenvolvimento global, que inclui a evolução dos aspectos motores. A atenção e a capacidade de fixar objetos permite, numa primeira fase, explorar o espaço visual de perto que culmina na capacidade de tocar e agarrar os objetos ao alcance da mão; numa segunda fase com a aquisição da capacidade de gatinhar e de andar, permite a exploração do espaço visual de longe.”. Na tv, nos desenhos animados e nos jogos eletrônicos, a troca de imagens são constantes e intensas, provavelmente estimulem em demasia a fisiologia ocular nesse primeiro momento da infância.
Marcus Sáfady, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, ressalta que “a fadiga ocular é um mal recorrente na atualidade, já que tendemos a contrair um músculo dentro do olho para focalizar objetos a curta distância.”, desde a mais tenra infância. Continua citando que “Como todo músculo, o esforço contínuo leva ao cansaço e quando isso acontece, o olho fica incapaz de promover o foco exato, desencadeando a fadiga.”. Outro aspecto a ser pensado: as conseqüências no uso excessivo do computador, tvs e tablets não são imediatas, são doenças que vem ao longo do tempo.
Segundo os especialistas citados, o cuidado para com o aprendizado de ver, olhar, num desenvolvimento saudável da visão é primordial. Assim, precisamos pensar e repensar: quais são os melhores estímulos à aprendizagem de olhar? Podemos prejudicar a visão dos nossos filhos?
No desenvolvimento emocional, as mães logo percebem ao amamentar que o olhar da criança progressivamente vai se ampliando da sua fisionomia geral (face), para a observação dos olhos da mãe. Um dos momentos mais preciosos para uma mãe é quando a criança abre os olhos e faz contato com os olhos da mãe pela primeira vez. Depois, com o passar dos dias, quase que instintivamente, as mamães mostram as mãozinhas das próprias crianças, as suas mãos, alguns objetos carinhosamente preparados para a recepção do bebê e progressivamente ensinam seus bebês a olharem e verem o mundo, construindo progressivamente o significado de cada situação. Nesse momento tão íntimo da construção do olhar, a relação mãe-filho(a) se intensifica e auxilia o ser em desenvolvimento a constituir-se como sujeito. Permeia-se assim, o respeito ao descanso ocular e atenção. A mãe observa o fechar de olhos do bebê, e assim que o bebê olha novamente para mãe, seus olhares se encontram.
A já citada Dra. Regina Cele, evidencia “se todas as partes do olho estiverem em perfeita ordem e o cérebro for estimulado com imagens nítidas, desenvolverá a visão normalmente, chegando ao seu pleno desenvolvimento entre os 5 e 7 anos de idade.”. Outra questão a se pensar: a estimulação visual intensa pode gerar irritabilidade nos bebês e crianças?
O aprender a olhar, iniciado num momento tão íntimo, pode permear o cotidiano da criança, visto que ela observara o que os pais lhe mostrarem. Evitar a tv, tablets, computadores e afins nos primeiros anos de vida, pode ser difícil, porém ha uma grande possibilidade de ser mais saudável. E como diz minha filha após ser mãe, “agora sei que a saúde de um filho não tem preço.
Autor: Rachel Canteli
Fonte: RR Clinica Psi