Conseguimos fazer uma memorável coleção de desafetos. Uma combinação de gosto de cinema e ele de Rock. Não passo sem tardes de primavera e ele sem conversa fiada ou de graça no final do expediente. Entretanto havia amor. Não era aquele amor de futuro. Era uma coisa de hoje, ou pelo menos das obrigatoriedades mais fundamentais.

E a gente ia levando, considerando o hábito das sextas-feiras de bebericos e alguns carinhos. Sem favoritismo, ganhávamos a vida, fazendo de conta e apostando que aquilo sim, era felicidade, calmaria, ajuste, e vontade saciada vez ou outra.

Alternando caras de angústia, um quinhão de preocupações, tentativas de alegria e convicções simpáticas a nossa existência afetiva era ganhar o dia, pagar contas e esperar o dedilhado desconfiado do romance com pouco brilho.

Juntando os pequenos castelos, o cheiro íntimo que não causava mais nenhum furor, essa nossa via de mão única não alcançar o patamar de meus sonhos.

As juras antigas, as implicâncias comuns, estavam longe de desengasgar meus desejos. O desconhecido me atiçava, o novo me estimulava. Mesmo assim, eu bem sabia que a vida sempre iria me oferecer algumas coisas e também tirar outras. Dentro de mim eu pedia que ela nunca me tirasse a esperança, os sonhos e a fé. O restante, mesmo que fosse meio amargo eram arestas, gorduras e sombras que não me pertenciam.

Decidi fazer uma reconciliação. Decidi encontrar a chave dos meus abraços e o aconchego da minha alma. Essa era a reconciliação. Cedi espaço, alertando que sou merecedora de desejo, afeto, bagunça, segurança e aventura. Não necessariamente nesta ordem, nem em passos lentos. Em sequência ou num vaivém extraordinário de alegria e causando uma emoção nova na manhã seguinte, eu troquei os hábitos da vida que se resumia em amanhecer, entardecer, anoitecer, sol, chuva, trovoada, ventos ou brisa, para alternar em minha reconciliação, meu encontro de sentimentos assombrosos e outras amenidades.

O que começou por uma distração de sentimentos, não podia durar. Estava mais para promessa de férias de verão. Então, eu comecei a fase “tudo para encontrar meus acertos e minhas certezas”, porém provisoriamente sozinha.

Reescrevia a minha vida, com outro salto alto. No momento fazendo histórias de probabilidades, sem verbalizar desejos.

Não podia mais aceitar os termômetros sempre no mesmo alinhamento. O inverno sempre com o mesmo cobertor. As náuseas extras de insegurança. Redescobri o que era gostar das silabas amorosas, do admirável e comovente romance de carne e osso. Entendi que o meu mundo precisava expandir, comigo junto, sem a habitual escuridão de uma companhia desbotada. Nessa alternância de sustos, obstáculos, procuras, sentimentos, pódios dentro de mim, subi sem rumores, preparando para um mundo menos covarde com outras saídas mais confortáveis e principalmente mais confiáveis.

 Enguicei nesta coisa tão profunda de reconciliação, mas absolutamente necessária. E por susto, deu certo.  A galáxia mais distante que fui, situava-se me mim mesma. Entendi que ninguém tem ideia de si mesmo até se encontrar.

 Autor: Ita Portugal

Natthalia Paccola

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