Você está em análise? Etâ perguntinha difícil de responder; vejamos. Primeiro, não basta você dizer que vai a um psicanalista bem titulado, tantas vezes por semana. O carteiro do analista também vai lá com frequência e nem por isso está em análise. Ficou conhecida a história de um paciente que após um bom tempo diz a “seu analista” que está chegando ao fim de seu trabalho. Este lhe responde: – “Engano seu, penso que o senhor está prestes a começar”. Entrar em análise é mudar de posição subjetiva: a pessoa para de referir suas queixas às cenas atuais de seu cotidiano e passa a se entender em uma “Outra Cena”, como dizia Freud. Isso é difícil de conseguir, pois a realidade sempre alivia o comprometimento de cada um em seu mal-estar, razão pela qual muitas pessoas adoram viver um inferno de vida. Se quisermos traduzir em conceito, entrar em análise é sair de uma moral dos costumes e se instalar na ética do desejo.
Segundo, há que se conhecer a diferença entre Psicanálise e o mar de psicoterapias que são oferecidas. Se até para o profissional, nem sempre é clara, imagine para o leigo. O termo “Psicanálise” adquiriu certo valor de mercado e acaba sendo o cobertor genérico de corpos disciplinares muito diferentes, o mais das vezes, opostos. Em síntese, praticamente todas as psicoterapias seguem o modelo da ética médica: um se queixa, o outro trata; um não sabe, o outro sabe; um é paciente, o outro é atuante. Arrisquemos uma definição: no fundamento do que se chama Psicanálise está sempre – sim – sempre responsabilizar o sofredor em seu sofrimento. Não culpar, atenção, responsabilizar e de uma responsabilidade muito diferente da responsabilidade jurídica, que se baseia na consciência dos fatos. Seria até engraçado que a prática do inconsciente exigisse a responsabilidade consciente. A responsabilidade em Psicanálise, contrariamente à jurídica, é a responsabilidade frente ao acaso e à surpresa. Não dá para ninguém se safar de uma situação dizendo: – “Ah, só se foi o meu inconsciente”, como se ele fosse ‘um moleque irresponsável que não tem nada a ver comigo’. A Psicanálise se define por sua ética, como queria Lacan, e a ética da Psicanálise é o avesso da ética médica, por conseguinte, das psicoterapias. Isso não quer dizer que uma coisa seja melhor que a outra, mas que é fundamental reconhecer as diferenças para que haja uma colaboração efetiva entre os campos clínicos e não mútuo borrão, como soe acontecer.
Terceiro, finalmente, fazer análise hoje é igual aos tempos de Freud? Sim e não. Sim, no que tange ao fundamento do inconsciente; não, na diferença de sua expressão. Desde Freud até muito recentemente, digamos há uns trinta anos, fazer análise era se conhecer melhor e, por isso, agir de maneira menos infestada de comprometimentos psicopatológicos. O se “conhecer melhor” se obtinha na análise do Complexo de Édipo, matriz da significação do comportamento humano, verdadeiro software genial que Freud invene – tou para entender como uma pessoa pode operar o hardware mundo, que não lhe é em nada natural. Por quase cem anos acreditamos que o mundo era edípico, e era mesmo, se edípico é um mundo que institui um padrão de significação vertical e superior, no caso, o Pai. O paciente de ontem, por viver em um mundo padronizado, sabia onde queria chegar e se perguntava sobre o que lhe amarrava a sua vida, daí o foco no passado. Entramos, agora, em uma nova configuração do laço social: a globalização privilegia a horizontalidade sobre a verticalidade constituindo uma sociedade em rede, muito distinta da piramidal da qual nos afastamos no bonde da História. Se hoje o Édipo ainda funciona, sua abrangência de leitura do fenômeno humano é mais restrita e, em decorrência, uma clínica nele centrado também o é. Necessitamos de uma clínica além do Édipo.
O paciente de hoje, mais que do passado, quer saber do seu futuro. Ele não se pergunta o que o impede de chegar a um objetivo, pois o problema, quando se quebram os padrões, é saber qual é o seu objetivo entre as inúmeras possibilidades, fato que o angustia. Paradoxalmente, uma análise vai lhe mostrar que há um limite ao conhecimento e que fazer uma análise não é conhecer mais, mas se defrontar com o impossível de tudo saber, frente ao qual só resta uma possibilidade: a de inventar uma solução e a de publicá-la, suportando o risco de seu desejo. Uma análise hoje, pós-edípica, deverá ser capaz de transformar a angústia imobilizadora em criativa; a rigidez em flexibilidade; a moral da necessidade em ética do desejo.
Autor: Jorge Forbes
Fonte: artigo publicado na Revista Psique – número 51, março 2010.
Se para Lacan o inconsciente é o discurso do “Outro”, seria lógico de se pensar que aquilo que se pensa como sendo do “ser” – “responsabilidade subjetiva” deveria ser responsabilidade responsabilidade do Outro..?
Quais as implicações clínicas que isso traz para a posição do sujeito: entrar ou não em análise, tal ponto de vista?
Poder-se-ia então pensar que o fato de um paciente após um bom tempo dizer a “seu analista” que está chegando ao fim de seu trabalho. Este lhe responde: – “Engano seu, penso que o senhor está prestes a começar” seria porque nesse tempo todo o trabalho feito teria sido feito “não com o Outro”?
Talvez o psicanalista só queira tomar um sorvete com dinheiro do meu pai, como disse meu ex analista e ainda me chamou de canalha… Não aguentou a verdade tadinho! E ainda foi chamado estrelinha pelo colega… E olha ele q nunca emitiu um recibo se quer… Ta correndo na justiça… Como proceder?